Pense em uma sala de aula que, além dos problemas matemáticos, os
professores ensinassem seus alunos a resolverem conflitos da "vida
real" e a terem sucesso nela. Agora pense em uma escola prestes a
fechar. Você acreditaria que apenas sete passos, que contam com valores morais
como proatividade e “fazer primeiro o mais importante”, conseguiram mudar o
futuro do colégio?
Parece difícil e até utópico de crer, mas essa foi a reinvenção que a
diretora Muriel Summers precisava para dar um novo fôlego aos alunos e ao corpo
docente da escola A.B. Combs, na Carolina do Norte, Estados Unidos.
O método de ensino O Líder em Mim , utilizado para
ajudar o colégio, nasceu em 1999 e foi desenvolvido por Sean Covey, baseado no
livro Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes , escrito
pelo pai Stephen R. Covey. O educador esteve no Brasil para uma palestra sobre
o assunto e em entrevista exclusiva ao Terra , por telefone,
Sean falou sobre os principais desafios da educação atual.
O método já é utilizado por mais de 250 escolas brasileiras e foca em
crianças do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano). Como Convey explica, “as
matérias básicas não são o suficiente, precisamos educar as crianças por
completo. Precisamos ensinar valores como criativade, colaboração, como lidar
com outras pessoas, responsabilidade.”
“Eu tenho a oportunidade de viajar ao redor do mundo, conhecer
diferentes escolas, e vejo que os problemas são basicamente os mesmos. E o
sistema brasileiro não foge disso”, afirma. “Visitei países como Índia, México,
Holanda, Estados Unidos, China e os problemas são similares. A necessidade de
educar os alunos para a vida é similar no mundo inteiro”.
O Líder em Mim incentiva os alunos a acharem seus próprios dons e enxerga que cada
criança é um líder em potencial. Existem sete passos básicos instigados em sala
que são os “pilares” do método e criam uma linguagem comum, facilitando a
comunicação entre alunos e professores:
Hábito 1: seja proativo
Hábito 2: comece com o objetivo em mente
Hábito 3: faça primeiro o mais importante
Hábito 4: pense ganha-ganha (ou seja, o aluno precisa
resolver possíveis conflitos de forma que ambas as partes saiam ganhando)
Hábito 5: procure primeiro compreender, depois ser
compreendido
Hábito 6: crie sinergia
Hábito 7: afine o instrumento (ache um equilíbrio entre
corpo, cérebro, coração e alma)
“O método é um
processo escolar. Começa com os professores aprendendo os valores de um líder e
passando para as crianças, que aprendem responsabilidades como balancear
corpo, mente e espírito. Assim como aprendem a resolver problemas matemáticos,
também precisam aprender a lidar com outras pessoas”, explica o educador.
Porém, se a
primeira vista parece complicado para crianças assimilarem uma nova forma de
pensar, para os adultos o processo pode ser ainda mais desafiador.
“Adultos têm
dificuldades em ‘desaprender’, então o método também tem muito a ver com os
próprios adultos (professores, funcionários, pais). O método começa com os
professores, os funcionários do colégio e eles aprendem que se queremos uma
mudança, precisamos começar com nós mesmos. É muito mais fácil com crianças do
que com adultos”, explica Covey.
Segundo o
educador, os professores se sentem tão beneficiados quanto os alunos, pois são
relembrados do por que escolheram ensinar, por que estão trabalhando com
crianças. Como resultado, os profissionais voltam a encontrar alegria em sua
rotina. “O projeto é de dentro para fora. É difícil para adultos mudarem. A
razão por que o método impacta tanto é que começa com os professores, ele muda
a cultura da escola”, afirma.
O desenvolvedor do
método acrescenta: o que fortalece esse sistema de ensino é levar em
consideração que cada criança é diferente, portanto, é melhor em áreas
diferentes. “Parte da força de O Líder em Mim é
que ele valoriza o aluno como indivíduo. Queremos ajudar cada criança a achar
seu dom, sua voz, em que são boas. Não é uma receita de bolo. Em que você é
bom? Vamos descobrir e comemorar com você”.
“Crianças com
dificuldade de aprendizagem, autismo, ou muito tímidas costumam se dar muito
bem em escolas que usam o método. E o motivo desse sucesso é que os professores
são instigados a ajudarem eles, descobrirem junto com o aluno em que eles são
bons, incentivá-los”, comenta.
Como exemplo, Sean
cita o caso que ocorreu em uma das escolas, nos Estados Unidos.
“Tinha um aluno,
conhecido por praticar bullying com outras crianças, que havia sido expulso de
seu colégio. Ao chegar à nova escola e conversar com a diretora, mostrou o
mesmo comportamento, até a xingou. O que foi feito? Ela lhe atribuiu uma
atividade de liderança: ele seria o responsável por separar as brigas na hora
do intervalo. Ele ficou surpreso, porque estava acostumado a ser o ‘cara
malvado’. Mas essa atitude e o incentivo dos professores mudaram sua forma de
agir.”
“O intuito é ir
atrás de cada criança, não apenas celebrar e exaltar aqueles que vão bem nas
matérias ou são bons nos esportes. Se você é bom em audiovisual, por exemplo,
vamos achar uma tarefa para você exercer isso”, finaliza.
O Líder em
Mim já
chegou a 36 países, como Argentina, Egito, Nova Zelândia e Uganda. Sean Covey
explica como o método deu certo mesmo em culturas que se mostram tão
diferentes: “foi uma bela surpresa para nós ver como o método se adaptou em
tantos países. Claro que eles precisam fazer alguns ajustes, colocam seus
próprios ‘temperos’. Mas como O Líder em Mim é
baseado em valores universais, funciona muito bem. Já testamos em países
como Taiwan, China e Arábia Saudita.”
O mundo está
mudando cada vez mais rápido, métodos de ensino que antes pareciam brilhantes,
hoje já se mostram defasados. Porém, a educação em si ainda demora a mudar. E
Covey tem uma explicação para isso.
“Educação é algo
demorado, porque você tem sistemas que são difíceis de quebrar. Já saímos da
era industrial, estamos na era do pensamento, da criatividade, mas essa era
industrial ainda está presente em muitas empresas e não é fácil romper com
isso. Só as matérias básicas não são suficientes, temos que criar os alunos
para a vida.”